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 Poetas são eternos

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poetas eternos 1








 

Cântico I

Não queiras ter Pátria.
Não dividas a terra.
Não dividas o céu.
Não arranques pedaços ao mar.
Não queiras ter.
Nasce bem alto.
Que as coisas todas são tuas.
Que alcançará todos os horizontes.
Que o teu olhar, estando em toda parte
Te ponhas em tudo,
Como Deus.
(Cecilia Meirelles)
                                                       ***
 

                              Carlos Drummond de Andrade

                                          HIPÓTESE
                                          
                                          E se Deus é canhoto
                                          e criou com a mão esquerda?
                                          Isso explica, talvez, as coisas deste mundo.


                                            ***


Fernando Pessoa

(...) Vi todas as coisas, maravilhei-me de tudo,
Mas tudo ou sobrou ou foi pouco - não sei qual - e eu sofri.
vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos,
E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse,
Amei e odiei como toda a gente, Mas para toda a gente isso foi normal e institivo. E para mim foi sempre a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.
(...)"  Álvaro de Campos
   em  Passagem das Horas


                                                              ***

                                                              

GO BACk

Você me chama
Eu quero ir pro cinema
você reclama
meu coração não contenta
você me ama
mas de repente a madrugada mudou
e certamente
aquele trem já passou
e se passou
passou daqui pra melhor,
foi!

Só quero saber
do que pode dar certo
não tenho tempo a perder

você me pede
quer ir pro cinema
agora é tarde
se nenhuma espécie
de pedido
eu escutar agora
agora é tarde
tempo perdido
mas se você não mora, não morou
é porque não tem ouvido
que  agora é tarde
- eu tenho dito -
o nosso amor michou
(que pena) o nosso amor, amor
e eu não estou a fim de ver cinema
(que pena)
                    Torquato Neto         

                                             ***


             DELÍRIOS II
                      
     ALQUIMIA DO VERBO



         Para mim. A história das minhas loucu-
      ras.
         Há muito me gabava de possuir todas
      as paisagens possíveis, e julgava irrisórias
      as celebridades da pintura e da poesia mo-
      derna.
          Gostava das pinturas idiotas, em por-
      tas,  decorações, telas circenses, placas,
      iluminuras populares; a literatura fora de
      moda, o latim da igreja, livros eróticos sem
      ortografia, romances de nossos antepassa-
      dos, contos de fadas, pequenos livros in-
      fantis, velhas óperas, estribilhos ingênuos,
      rítmos ingênuos.
           Sonhava  com as cruzadas, viagens de
      descobertas de que não existem relatos, re-
      públicas sem histórias, guerras de religião
      esmagadas, revoluções de costumes, des-
      locamentos de raças e continentes: acredi-
      tava em todas as magias.
           Inventava a cor das vogais! - A  negro
      E branco, I vermelho, O azul, U ver-
      de. Regulava a forma e o movimento de
      cada consoante, e , com ritmos institivos,
      me vangloriava de  ter inventado um verbo
      poético acessível, um dia ou outro, a todos
      os sentidos. Era comigo traduzí-los.
      Foi primeiro um experimento. Escre-
      via silêncios, noites, anotava o inexprimível.
      Fixava vertigens. 
Rimbaud
                                                                ***


                        NERUDA 
 
POEMA XVIII

 
Os dias não se descartam nem se somam, são abelhas
que arderam de doçura ou enfureceram
o aguilhão: o certame continua,
vão e vêm as viagens do mel à dor.
Não, não se desfia a rede dos anos: não hà rede.
não caem gota a gota de um rio: não há rio.
O sonho não divide a vida em duas metades,
nem a ação, nem o silêncio, nem a virtude:
a vida foi como uma pedra, um só movimento,
uma única fogueira que reverberou na folhagem,
uma flecha, uma só, lenta ou ativa, um metal
que subiu e desceu queimando em teus ossos. 

                                               ***

A  ROSA  DE  HIROSHIMA

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa  sem nada. 

Vinicius de Moraes 

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